A declaração da inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não é o final, mas o início de um calvário para o ex-chefe do Executivo, que pode terminar em situação muito pior do que apenas formalmente fora das eleições. As acusações de ordem criminal tendem a ser problemas permanentes ao ex-capitão do Exército e a baixa mobilização de seus aliados na primeira derrota é um sinal fortemente negativo.
Já no julgamento do TSE, veio o primeiro recado direto. As informações acerca da reunião dos embaixadores e da mobilização contra as urnas que levaram à inelegibilidade serão remetidas pelo TSE ao Ministério Público Federal (MPF), ao Tribunal de Contas da União (TCU) e à Polícia Federal (PF), por meio de inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) relacionados à fake news e milícias digitais.
Minutos depois da decisão, foi o ministro da Justiça, Flávio Dino, que trouxe outra notícia ruim ao ex-presidente, anunciando que enviaria requerimento à Advocacia Geral da União (AGU) para que o Estado brasileiro cobre uma indenização de Bolsonaro em razão, segundo ele, de “danos causados ao Judiciário e à União”, comprovados pela decisão do TSE.
E, claro, não para por aí. E isso explica também a cautela de Bolsonaro em muitos momentos ao falar sobre a decisão do TSE e sobre o Judiciário brasileiro. Além de outras 15 ações na Justiça Eleitoral e dos já citados inquéritos das milícias digitais e das fake news no STF, há ainda investigações sobre os atos de 8 de janeiro, as joias recebidas da ditadura da Arábia Saudita, ações de seu governo na pandemia, o genocídio de povos indígenas, um possível vazamento de inquérito sigiloso do TSE, o uso eleitoreiro de programas sociais, a possível interferência na PF e uma acusação de apologia ao estupro. Tudo isso em diferentes fases de investigação no STF e em outras instâncias do Judiciário brasileiro.
Trocando em miúdos, há muitos riscos para Bolsonaro acabar preso em vez de reabilitado politicamente. E o próprio ex-presidente sabe disso e já demonstrou inúmeras vezes preocupações sobre a hipótese, citando, por exemplo, Jeanine Áñez, que foi detida na Bolívia, acusada de tentar dar um golpe de Estado.
Quando Bolsonaro perdeu as eleições no ano passado, embora houvesse avaliações sobre o risco de uma prisão, havia também a ressalva de que o Judiciário talvez não ousasse arriscar fazê-lo em razão do risco de convulsão social com a revolta de seus aliados. A decretação quase silenciosa da inelegibilidade, sem um aliado na porta da Corte Eleitoral e com uma mobilização tímida nas redes enfraqueceu essa tese. Neste ponto, o 8 de janeiro acabou sendo catastrófico para Bolsonaro pois os reflexos dele, com prisões e denúncias, intimidaram seus aliados comuns.
Dito tudo isso, alguém poderia dizer que é o fim de Bolsonaro. Mas concluir isso em um país que já reabilitou um ex-presidente que esteve preso por 580 dias é tarefa ousada. O cenário de hoje é tenebroso para Bolsonaro. O futuro próximo também. Aquele mais distante depende muito de quem vai vencer cada batalha eleitoral daqui em diante.
Fonte: O Tempo