O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 2,9% no ano de 2022, em comparação com 2021, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira, 2. Apesar do crescimento, o PIB caiu 0,2% no último trimestre.
Após a divulgação, o presidente Lula (PT) e ministros do governo voltaram a fazer duras críticas a respeito da manutenção da taxa de juros pelo Banco Central (BC).
Para falar sobre o assunto e dar um panorama do cenário econômico brasileiro o Jornal da Manha, da Jovem Pan News, entrevistou o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do BC, Henrique Meirelles. O economista afirmou que a autoridade econômica não deve ser responsabilizada pela desaceleração do PIB: “Não há dúvida de que o PIB caiu e, na minha opinião, não é responsabilidade do Banco Central. O Banco Central tem que fazer o seu trabalho, tem que controlar a inflação”.
“Não existe exemplo na história, apesar do que muitos economistas brasileiros acreditam, de que inflação gera crescimento. Inflação gera recessão, gera problema, gera perda de poder aquisitivo e desorganização na economia. O Banco Central tem que fazer o seu trabalho de controlar a inflação. O problema é o que gera a inflação, o que cria a inflação. Temos uma série de coisas, desde a expansão fiscal muito grande, que houve já no final do mandato do governo anterior. Esse governo começou já com um nível de gastos muito elevado e aumentando. Já começou gastando R$ 200 bilhões. E tudo isso gera inflação. Em uma economia que já vinha relativamente equilibrada, ele joga toda essa montanha de dinheiro e isso gera inflação. O Banco Central tem que controlar a inflação, não pode deixar sair do controle, se não é pior. Essa é a razão de nós termos essa queda do PIB no final do ano”, argumentou.
Para Meirelles, antes de criticar o Banco Central era importante que o governo promovesse uma reforma administrativa e cortasse gastos da máquina pública: “O que leva o país a estar nesse eterno voo da galinha é sempre a mesma coisa. É o problema do excesso de gasto público. Existe um conceito errado no Brasil de que gasto público leva a crescimento. É normal e até compreensível, apesar de ser negativo, de que político gosta de gastar. É fácil gastar o dinheiro dos outros aparentemente. O problema é que esse dinheiro na realidade pertence à população, que tem que pagar imposto para sustentar o governo. Esses excessos de gastos que temos há décadas no Brasil que leva a essa história de sobe e desce”. O ex-ministro da Fazenda aposta em um crescimento ainda mais baixo para 2023: “A minha previsão é de que será ao redor de 0,7% o crescimento do ano de 2023 no Brasil. É um crescimento baixo.
“O importante no Brasil são os fatores domésticos. Isto é, nós temos que olhar essa questão dos gastos excessivos e controlar isso. É muito importante que se fizesse uma reforma administrativa para cortar e diminuir as despesas. Isso é fundamental para que realmente o país possa crescer. E também a reforma tributária, que é muito importante para aumentar o nível de produtividade da economia brasileira. De maneira que os brasileiros possam, trabalhando um mesmo número de horas, trabalhar mais e melhor. Para isso a reforma tributária é fundamental, tem uma boa reforma que está no Congresso (…) Eu acredito que o caminho está dado, é só seguir na direção correta, ficar menos preocupado em criticar o Banco Central e em ficar tentando botar a culpa nos outros, e fazer o dever de casa”, declarou.
O economista também comentou a declaração do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, de que a política de paridade internacional deixará de ser o único parâmetro para a determinação dos preços dos combustíveis. Como proposta, Meirelles defendeu a privatização da estatal: “Essa história de ficar manipulando o preço e misturando problema de política pública com administração empresarial é um problema. Nós temos um grande problema no Brasil que também é essa questão da Petrobras. É um monopólio estatal do petróleo e que é muito usado politicamente, como estamos vendo aí. Eu acho que a solução para a Petrobras era dividir a companhia em três ou quatro e privatizar. Colocar estas companhias competindo e baixando o preço por um mecanismo mais saudável de livre mercado, como tem em outros países, inclusive nos Estados Unidos, por exemplo”.