O governo federal prevê que o gasto com os juros da dívida neste ano chegue a R$ 680 bilhões. A informação foi dada pelo secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, durante uma entrevista sobre o novo Boletim Macrofiscal, divulgado nesta quarta-feira (19).
O valor ultrapassa a soma do orçamento previsto em 2023 de três dos maiores ministérios do governo: Desenvolvimento Social, Saúde e Educação. “É praticamente todo o gasto social do país”, afirmou Mello.
Segundo o secretário, a manutenção, pelo Banco Central, da taxa Selic, que está desde agosto do ano passado em 13,75% ao ano, é descolada do restante do mundo. Cada ponto percentual pode corresponder a uma parcela de R$ 40 bilhões.
No início da semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o resultado do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR) veio “como o esperado” diante do patamar “muito elevado” do juro real. De acordo com a divulgação feita na segunda-feira pelo BC, a economia brasileira apresentou uma forte contração em maio. O IBC-Br do mês caiu 2%.
Nesta quarta, Mello seguiu essa linha ao criticar a taxa de juros e vincular o patamar aos resultados recentes do nível de atividade econômica. “Isso tem impacto no nível de atividade, em particular a setores mais ligados ao mercado de crédito, como varejo, setor industrial, algumas partes do setor de serviços. Impacta também do ponto de vista das receitas, com menor renda disponível das famílias, menor lucratividade, e a arrecadação tende a desacelerar, dada a atividade dos setores, e isso representa impacto na trajetória de endividamento”, disse o secretário ao ressaltar também os efeitos da taxa no mercado de trabalho.
Ele voltou a defender a ideia de que já existem “condições colocadas há algum tempo”, como os dados de inflação, que permitem um “processo vigoroso e sustentado” da redução da taxa de juros. “Esse ciclo [de corte] que ainda está para se iniciar da queda de taxa de juros terá uma importância significativa do ponto de vista fiscal, econômico, social e no mercado de trabalho”, disse Mello, para quem é importante que o país se “aproxime minimamente” dos seus pares internacionais. “Brasil está muito à frente no processo de desinflação”, completou.
Mello reforçou a expectativa de que o patamar da Selic chegue a 12% ao fim de 2023. Ele endossou declarações de outros integrantes do governo que destacam o juro real do país como o maior do mundo, com efeitos sobre o mercado de crédito, o de trabalho e os gastos públicos, além do impacto na atividade econômica e, portanto, na arrecadação do governo.
“Na Selic esperava-se queda expressiva, podendo chegar a 12% em 2023. A expectativa do mercado hoje é bastante diferente da expectativa de dois meses atrás. Há um fenômeno similar nas curvas de juros, com taxa para 30 meses próxima de 10%, bastante inferior a dois ou três meses atrás”, disse Mello em uma entrevista coletiva sobre o novo Boletim Macrofiscal.
O secretário destacou a expectativa de que a autoridade monetária brasileira inicie um ciclo de corte da taxa de juros, mas revelou que o país tem um caminho a percorrer nesse segmento. “Desse ponto de vista, a perspectiva de preços e juros é de melhoria daqui para a frente, mas temos ainda caminho para avançar”, disse Mello, para ressaltar que os juros no patamar atual são um dos fatores que explicam o comportamento do mercado de crédito, com condições que continuam “adversas”.
“Pode-se observar uma queda nas concessões de crédito que remonta desde o fim do ano passado, aumento da inadimplência, em especial de pessoas jurídicas, mas também de pessoas físicas” disse Mello, para quem o mercado de emissão de debêntures, apesar de ter apresentado melhora em junho, ainda está “bastante contraído”. “A recuperação desse mercado em junho se dá em parte pela queda de taxas longas de juros”, disse.
Fonte: Portal R7.com