Em junho, Moraes autorizou uma operação de busca e apreensão contra o senador Marcos do Val. As buscas ocorreram no apartamento funcional ocupado pelo senador em Brasília, no gabinete dele no Senado e, ainda, em pelo menos um endereço no Espírito Santo.
As medidas foram solicitadas depois de os investigadores identificarem tentativas do senador de atrapalhar as apurações sobre os atos terroristas do dia 8 de janeiro. No fim de junho, o senador solicitou afastamento das atividades parlamentares após precisar de atendimento médico durante uma sessão na CPI que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro.
O “plano”
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) detalhou que, “em 7 de dezembro [de 2022], estava no plenário e apareceu Daniel Silveira”. “[Ele] pediu para que pudesse ir lá fora, porque ele não estava com os trajes [ternos e gravata para permanecer no plenário]. Saí e ele disse que o presidente [Bolsonaro] queria conversar comigo.”
Do Val disse ter achado “estranho” ter sido procurado por Silveira, mas afirmou não ter rechaçado inicialmente o contato.
“No dia seguinte, não era possível [atender ao pedido de reunião], e perguntei se poderia ser na sexta. Mas eu já estava pensando que precisava reportar ao ministro Alexandre de Moraes. Encontrei com ele no Salão Branco [do STF] e disse que tinha sido abordado pelo Daniel Silveira e perguntei ao ministro o que ele achava, se eu deveria ir ou não. Ele disse: ‘Vai, porque, quanto mais informação, melhor’. Marquei no dia seguinte”, seguiu Marcos do Val.
Em seguida, o senador narrou o que aconteceu na reunião com Bolsonaro e Silveira, que, ainda segundo o parlamentar, aconteceu na Granja do Torto, uma das residências oficiais da Presidência da República:
“Ele [Silveira] tinha dito que iam me pegar em outro veículo. Meu motorista parou em um estacionamento, ele parou um carro atrás, o Daniel já estava lá dentro. Pedi para o meu motorista aguardar, saí do carro, fui para o carro deles. Passei sem ser identificado [na cancela da Granja do Torto] e, para mim, era alguma coisa voltada para a área de inteligência e na questão dos acampamentos nos quartéis. Iniciamos o assunto só eu, Daniel e o ex-presidente [Bolsonaro]. Afirmei que era melhor avisar logo à sociedade que não ia ter nenhuma intervenção militar, e tirasse aqueles brasileiros dali”, seguiu o parlamentar.
“Ministro, tô liberado?”
“Daniel Silveira começou a fazer a explicação do porquê de eu ter sido chamado”, continuou do Val, que, em seguida, narrou o plano, segundo ele formulado por Silveira, de marcar uma reunião com Moraes, ir a esse encontro portando um equipamento de gravação e tentar instar o ministro do Supremo a admitir algum tipo de intervenção ilegal no processo eleitoral com o objetivo de beneficiar o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Eu disse que iria pensar e, durante todo o processo, o presidente estava em silêncio, quem falava era o Daniel”, disse Marcos do Val. “Peguei o voo, fui para Vitória, mandei uma mensagem para o ministro [Moraes] informando mais ou menos o que seria a conversa. Voltei a Brasília, nos encontramos no STF. Relatei para ele. O ministro ficou surpreso, ele é muito introspectivo. Olhou para cima, balançou a cabeça. Falei: ‘Ministro, tô liberado?’ Ele disse que sim.”
“O presidente não falou nada, mas não impediu o Daniel de falar sobre a ideia”, disse ainda Marcos do Val. “Quando eu disse que não ia cumprir a missão, que não ia compactuar com isso, ele [Silveira] ficava insistindo. Ligava várias vezes, eu não atendia o telefone”, completou ele.
Fonte: Metrópoles