Um conjunto de áudios de posse da Polícia Federal e cuja transcrição foi divulgada pela “CNN Brasil” aponta que o militar da reserva e ex-candidato deputado estadual Ailton Barros (PL-RJ) discutiu detalhes da tentativa de um golpe de Estado com o ex-ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid. Os dois estão presos por ordem do ministro Alexandre de Moraes, após pedido da Polícia Federal, em investigação sobre a fraude em dados de vacinação de Bolsonaro, de sua filha, do próprio Cid e de seus familiares.
Nos áudios, gravados em dezembro do ano passado, segundo a CNN, Ailton fala em pressionar o comandante do Exército na época, general Freire Gomes, para usar tropas de Goiânia para prender o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, e impedir a troca de governo.
“Conceito da operação: Então, hoje já é meia noite e cinquenta e nove de quinta-feira, dia 15 de dezembro. É o seguinte: então, entre hoje e amanhã, sexta-feira, tem que continuar pressionando o Freire Gomes para que ele faça o que ele tem que fazer. Até amanhã à tarde, aderindo bem, ele faça um pronunciamento. Então, se posicionando dessa maneira, pra defesa do povo brasileiro. E se ele não aderir, quem tem que fazer esse pronunciamento é o Bolsonaro, para levantar o moral da tropa. Que, você viu né? Eu não preciso falar. Está abalada em todo o Brasil. No agronegócio, nos caminhoneiros, no meio empresarial, no cidadão comum. Estamos todos quase jogando a toalha né? Então, o que nós temos que fazer? Até sexta-feira, até amanhã fazer um pronunciamento. Ou Freire Gomes ou Bolsonaro. De preferência o Freire Gomes. Aí vai ser tudo dentro das quatro linhas”, começa falando Ailton Barros.
Na sequência, ainda segundo a CNN, ele dá mais detalhes da ação. “Nós já estamos no limite da ZL (zona de lançamento, no jargão militar). Não vamos ter mais como lançar. Tem que dar passagem perdida. E aí, como vai ficar o Brasil, entendeu? Como vai ficar a moral dos militares do glorioso Exército de Caxias? Então, a primeira coisa é essa. É esse o pronunciamento ou do Freire Gomes ou do Bolsonaro até amanhã à tarde. E também até amanhã à tarde todos os atos, todos os decretos da ordem de operações já têm que estar prontos. Como é que tem que ser? Pô, não é difícil. O outro lado tem a caneta. Nós temos a caneta e temos a força. Braço forte e mão amiga. Qual é o problema, entendeu? Quem é que está jogando fora das quatro linhas? Somos nós? Não somos nós. Então, vamos ficar dentro das quatro linhas a tal ponto ou linha? Mas agora nós estamos o quê? Fadados a não mais lançar. Vamos dar de passagem perdida? Então, se for preciso, vai ser fora das quatro linhas. E aí, nessa ordem de operações. Nos decretos, e assinados e nas portarias que tiverem que ser assinadas, tem que ser dada a missão ao comandante da brigada de operações especiais de Goiânia de prender o Alexandre de Moraes no domingo, na casa dele, como ele faz com todo mundo. E aí na segunda-feira ser lida a portaria ou as portarias, o decreto ou os decretos de Garantia de Lei e da Ordem (GLO) e botar as Forças Armadas, cujo comandante supremo é o presidente da República, para agir. Senão, nunca mais vamos limpar o nome do Exército”, completa.
O batalhão de Goiânia citado, é exatamente aquele para o qual Mauro Cid depois seria indicado para comandar. O nome, indicado na época de Bolsonaro, foi mantido pelo general Júlio César de Arruda, escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para comandar o Exército no lugar de Freire Gomes. Lula não aceitou, determinou a troca do nome, Arruda resistiu e acabou ele também demitido do comando da tropa. Em seu lugar entrou o general Tomás Paiva, que comanda as tropas hoje.
Ailton Barros, quem grava o áudio para Mauro Cid, é ex-militar paraquedista do grupo de Artilharia, avogado, ex-candidato a deputado estadual e se dizia o “01 de Bolsonaro” na campanha.
Fonte: O Tempo